sábado, 24 de dezembro de 2011

Voz do Silêncio

Não condeneis a fala;
Ela, por vezes, é benção de libertação,
A voz, o alvará de soltura.
Não condeneis o silêncio;
Ele e a sabedoria são quase vizinhos,
Moram em ruas transversais;
Em cuja esquina habita a solitária consciência.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Conectividade

Uma dia longo,
E mais uma noite em branco.
Tantos olhares,
Tantos pontos de vista,
Tantas referências,
E os olhos já estão tão cansados de olhar pra fora,
Que fica mais e mais difícil olhar pra dentro.

Quando os olhos já não conseguem enxergar o interior
É hora de fechar os olhos vez ou outra,
E descansar do mundo...

domingo, 13 de novembro de 2011

Ping Pong

Um qualidade: apreciar o belo, o impecável;
Um defeito: depreciar o feio, o horrendo, o humano.

sábado, 5 de novembro de 2011

Lugar ao Sol

Quando ouço essa música só me lembro do tempos em que morava na Bahia. Dos amigos e de tds os momentos que vivi no meu estado natal. É bom lembrar desses momentos, é bom sempre LEMBRAR. Quando faço isso procuro apenas lembrar-me e cultivar os sentimentos que vierem à tona; sejam eles quais forem. Saudades, tristeza, alegria, etc. É mais ou menos como diz um discurso do Waking Life: "Just remember. Because remembering is so much more a psychotic activity than forgeting...". Eu me lembro, com carinho e com muito gratidão à vida que passei na Bahia, pois sem ela não poderia estar aqui hj.

Tocando o Céu

Sobre os oceanos o mar parece mais profundo,
E o céu parece raso e atingível.
Será que as estrelas ficaram mais próximas?
Ou foram os braços que tanto cresceram?
(E agora alcançam os sonhos...)
A vida em si se transforma entre um punhado de nuvens,
E um bocado de ilusões vívidas.
Não estamos no céu, não estamos,
Mas chegamos quase lá.

Sobre Nosso Tempo

Se alguém na rua,
Porventura,
E por algum desatino mundano,
Indagar-lhe sobre o tempo;
Sobre esse em que vivemos,
Apenas diga-lhe: vivemos no tempo dos tolos,
No qual quase tudo encontra perdão imediato,
E em que a dúvida é desinteressante.
Melhor, diga-lhe que vivemos no tempo das virtudes mortas,
No qual as estações já não sorriem mais.
Por fim, diga-lhe que vivemos para ver nossos filhos e netos mudarem o mundo,
Porque nós mesmos não pudemos,
Pois ficamos a espera das respostas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Nobre Poesia

O poeta não é nobre
Tampouco sua poesia.
Ah, pobre dos que pensam que escrever pode ser esplêndido...
Transcrever as linhas ao papel é nada mais que transporta-se do mundo da alma solitária,
Para o infinito branco duma folha de papel.
Mas a estrada para lá, onde fica?!
Qual é esse caminho sórdido que sai da loucura para ir a vaga racionalidade?
O poeta não escreve por achar que na escrita está o remédio de su'alma,
Pois se a alma tivesse um elixir que fosse,
Um garrafada mal feita,
Uma pinga amarga,
Eu mesmo já a teria tomado;
Só assim veria curada a vertigem que a essas linhas o pensamento me traz.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Inquietação

Sou portador de doença rara,
E de um dom magnífico.
Carrego a triste sina dos magoados,
E a bravura dos corajosos enfrentadores do mundo.
Tudo isso fruto de uma imensa inquietação.

Portadores das Virtudes

Num lugar muito distante daqui,
Havia criaturas cujos hábitos eram docemente estranhos.
Cuidavam de suas vidas e assistiam os outros,
Tinham cuidado com sua fala e por isso suas cordas vocais eram um tanto atrofiadas.
(No entanto, sabiam falar e quando o faziam era por propósito relevante.)
Tratavam de seus ouvidos com carinho e esmero,
E até embaixo d'água buscavam usar a audição com sabedoria,
Ouviam o mar, as conchas e o sussurros dos peixes.
Esses cidadãos além-Terra nunca entraram em contato conosco,
Embora nos ouvissem em alto e bom som,
(Ou melhor, embora ouvissem a Terra em alto e bom som.)
Talvez porque mesmo as virtudes necessitem de meio propício para se propagar.
Pois, embora a boca dos que (pouco) falavam estivesse bem preparada,
O mesmo não se poderia dizer dos ouvidos dos (pouco) ouvintes daqui.
Por esse motivo, resolveram calar e não se pronunciar sobre nossa situação.
Ah, esses portadores das virtudes!
Habitantes d'outro lugar,
Descobriram que sabedoria e silêncio, sob certas circunstâncias, igualam-se.
E por isso gozam de paz incomparável...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pastor de Sonho

Se meu pai fosse pastor,
Eu não o quereria ser.
Não porque ache ruim ser pastor,
Mas acho ruim ser igual,
Ser o mesmo. 
Acho tudo tão singular,
E em tudo encontro uma tal peculiaridade,
Que ser pastor para mim seria um pesadelo.
Não para meu pai,
Que é Pastor de sonho,
Mecânico de profissão.

O Pastor, quando aparece
(Vez ou outra),
Congrega as ovelhinhas,
E até toma conta,
Pra crescerem bem e darem lã.
O Mecânico é "trabaiadô",
E não tem tempo pra cuidar de rebanho algum!
Só lhe resta o tempo da lida, 
Do suor que provê o sustento.
O Mecânico alimenta o corpo,
O Pastor alimenta a alma.

E eu, que nem pastor,
Nem mecânico,
Agradeço por não ser pastor,
Por não ser mecânico,
Por não ser ovelha (de sonho).






quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Linha Diretora

Sem dúvida que há uma linha diretora da vida!
Linha esta que deve ser a média,
Da linha do que você mais ama e mais quer fazer na vida,
Pela linha do que você realmente precisa fazer nela.

Caminhada

Um pássaro,
Outro pássaro;
Uma praça,
Outra praça;
Um passo,
Outro passo...
Haverão mais pássaros no caminho?
Haverão mais praças?
Esse é um destino incerto,
Mas, de certo, haverão mais passos;
E perguntas sem resposta também.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Clarividente

Todo mundo tem um aspecto sombrio
Que não é mal,
Posto que sombra pressupõe luz.
E de vez em quando é preciso encontrar-se com essa tal "sombra",
Como se fosse um(a) amigo(a) que não se vê toda hora
Não porque mora longe,
Mas sim porque mora perto demais pra irmos à sua casa toda hora.

Vizinha da sombra é a luz,
Que também não se vê a toda hora,
Por que hora ou outra não sai de casa,
Escondendo-se de nós.


Luz e a sombra,
Boas na dose certa;
Quem vê sombra demais desaprende a enxergar,
Quem só vê luz expõe demasiado os olhos,
E acaba cego.


domingo, 31 de julho de 2011

Alberto Caieiro

A poesia de Fernando Pessoa me cativa de maneira especial. A de Alberto Caieiro (heterônimo de Pessoa) em especial é de encanto duradouro na alma, posto que tudo nela remete a simplicidade. Caieiro é um obreiro da vida, um pastor de ovelhas, um guardador de rebanhos que vê na riqueza da alma a maior e mais fundamental de todas existentes no mundo concreto.
Eu, como nas palavras do próprio Pessoa, desejava ter conhecido antes a Alberto Caieiro; quem me dera muito antes.


O Guardador de Rebanhos - poema VII


"Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de
                                                                                     [todo céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
                                                                           [nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Home Office

Grampeei um bolo de pensamentos toscos e...
Pronto: foram todos embora.
Não é nada demais, todo mundo tem um escritório
Com papel em braco, lápis, borracha, grampeador e uma lixeira grande.
No meu, em particular, resolvi trocar a lixeira por um vasinho menor!
É que decidi fazer faxinas mais constantes em minha cabeça
Com uma lixeira grande dá pra juntar muito mais coisa,
Porém o saco fica mais pesado e difícil de jogar pra fora.

domingo, 24 de julho de 2011

Caprichos do Olimpo

De tanto esperar pela vida
A gente acaba pensando sobre esse troço de tempo
Quando chegará o tempo?
A que tempo faremos isto, aquilo ou aquilo outro?
Haverá tempo?

Parece até haver certo Cronos,
Regente do tempo a comandar as ações!
Pura bobagem!
Senão, como houveramos de nos encontrar?

É que ainda não era tempo...
A fruta só vinga quando é hora,
Senão fica devez...
Mas essa madurou, pouco depois de fecunda a flor. 


Era amor!
Não havia espaço para questionamentos!
Que dirá para o tal tempo!!
Cronos que se dane!
A flecha de Eros acertou primeiro,
Onde (supostamente) havia de acertar.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Dicotomia

O que mais me dói no mundo são as dicotomias;
É ter que, ora ou outra, rir o riso de um e de outro;
E, de tempos em tempos, chorar as lágrimas de um mundo inteiro;
Num só rosto.

sábado, 18 de junho de 2011

Cinemática X Dinâmica

Relutei muito escrever aqui qualquer coisa sobre física, é bem verdade. Mas no final de contas realizei que sendo Físico, essa atitude de certa forma representava certa fuga de minha parte, certo receio. Desse modo, resolvi encarar o desafio, pois de fato, Física é das coisas na vida que mais amo. Sendo assim, não há porque não falar um pouco sobre como penso em Física.
Tentarei não ser chato em minhas considerações, promessa!
Uma coisa sempre me intrigou no ensino e no estudo de Física em geral. Por que ensinar primeiro a cinemática (do grego κινημα, movimento [1]) dos corpos e não a sua dinâmica? Fato é que os gregos da idade clássica já se ocupavam de problemas tais como: a causa geratriz e mantenedora do movimento (embora não coubesse a esse tempo a matematização de tais considerações filosóficas acerca do movimento dos corpos). Em particular, as idéias de Aristóteles acerca do movimento dos corpos perduraram por longo tempo, até que Galileu trouxesse luz ao problema do movimento do corpos em queda [2] e Newton investigasse o caráter matematico da lei que rege a queda dos corpos.
Parece-me que em nenhum momento (até a concepção dos Principia Mathematica) houve uma separação nítida entre o caráter filosófico de investigação do movimento por si próprio e das razões que o causam. De uma forma inocente eu gosto de pensar que os "pensadores do movimento" embora não dissessem explicitamente "esse objeto se move por ação de uma força" (coube a Newton esse papel) tinham em mente que um certo "objeto de ação" (que nos foge à observação) provoca o movimento, dá prosseguimento a ele e cessa-o. O que caracteriza tais "objetos de ação"? Alguns respostas foram dadas por Newton, mas outras ainda hoje são intrigantes. Por exemplo, tomemos a segunda Lei de Newton (em sua forma simplificada): F = ma. O lado direito nos diz a aceleração do objeto (a taxa de variação de velocidade do objeto) relaciona-se com a força sobre ele. Mas que força? Nesse tocante, pensando rapidamente sobre as forças que conhecemos, a quais casos ela se aplica efetivamente? Leia-se: existe uma classe relevante de forças conhecidas por nós? (De modo que se possa fazer o usufruto dessa lei de movimento ao máximo possível?) Fato é que não! Desse modo, para conhecer a massa do objeto (uma propriedade intrínseca sua) seria preciso antes conhecer a causa geral que provoca o seu movimento; o "objeto de ação" que o faz mover-se. Galileu de certo pensava nas massas e na quantidade de matéria dos objetos, não fosse assim não teria demonstrado (por contradição) igualdade de tempo de queda dos corpos no vácuo (uma vez que ele mesmo não conhecia experimentalmente o "vácuo", embora pudesse pensar sobre ele).
A grande questão é que mesmo para um rol pequeno de forças conhecidas já é possível conhecer um pedaço importante do mundo ao nosso redor e do universo de maneira geral. De certo que os pensadores pré-Newton pensavam (a seu modo) sobre as causas que geram o movimento. Assim também fazemos nós que ensinamos hoje essas disciplinas; a diferença é ignoramos conscientemente algo que está lá ao passo que antes isso não era essencialmente verdade. 
Sendo assim, a conclusão a que chego é: ensinamos cinemática antes de dinâmica para evitar algumas preocupações filosóficas (e também por questões pedagógicas e práticas). A questão é: isso é mesmo bom? 
Uma mente capaz de pensar sobre o movimento por si própria é também capaz de pensar as causas que o geraram.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinem%C3%A1tica (18/07/11)

[2] The Mechanical Universe, Chaps. 1-4, Calthec & The Annenberg/CPB Project (1985)

sábado, 28 de maio de 2011

Facing Reality

I left home and suddenly
Put my glasses on;
Soon I saw the face of the world,
And its madness;
Yet, to keep the glasses on wasn't the hardest thing
The real challenge was to keep the eyes opened.

sábado, 21 de maio de 2011

Simetrias

Toda simetria guarda uma beleza;
Agrada,
A beleza do semelhante,
Dos semelhantes, irmãos.
Por semelhança de triângulos equiláteros,
Entendo a natureza dos quadriláteros,
E equaciono,
A curva do corpo e da alma,
Traçando o mundo em feixes de traços;
Perfeitamente simétricos,
Inequivocamente desiguais.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mistérios

Ontem,
ansiava desvendar os grandes mistérios do universo;
Hoje,
anseio desvendar os grandes mistérios de mim.

Rumo Norte

Tranca a porta
E não volta,
Embora deseje reparação;

Tens o orgulho do vencido
Mas metido,
Nega-se a humilhação;

Desculpar-se é motivo de fraqueza,
Mas então, diga-me com franqueza:
Que pensas tu que é amar?

Amar é perder a bússola da razão,
Que te mostra sempre o norte seguro,
Para o qual queres agora ir.

sábado, 30 de abril de 2011

Sinas

Padeço de tristes sinas:
A de sonhar diariamente,
E acordar;
A de semear,
E não fecundar;
A de ver avante o navio,
Que atracado,
Do porto sequer partiu.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Herança

Um moço: "Raiou o dia, vai lá ver!"
Um menino: "O que? Tenho de ir, só é cedo procê!"
O moço: "E vais pra onde?"
O menino: "Vou buscar o horizonte, a bravura e o amor."
Tal moço: "Não entendo. Como podes tão criança falar essas coisas?"
Tal menino: "É que preciso ir a luta; buscar o futuro e a esperança!"
Qual moço?: "Mas não sentes o infortúnio e a mágoa dos teus que aí puseram ocê?"
Qual menino?: "Fazer o que, Senhor?! Se essa foi a única herança que me coube ter!"

São tantos o meninos,
São tantos os moços!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sobriedade, Sombriedade

Todos esses momentos,
Instantes de reflexão,
São instantes de sobriedade,
Em que me liberto da embriaguês de viver.

terça-feira, 22 de março de 2011

Jogos da Memória

Se tu choras nesse canto,
É que o canto
Já lhe trouxe o pranto,
E um tanto
De lamentação.
 
Se tu espias, esguia,
Num canto,
É que o manto 
Encobriu um tanto,
Do corpo que tu querias.
 
Se tu falas, calas
A voz do coração,
E em ti embalas,
O bolero da razão;
(Triste sina de desolação).

Se tu aceitas, suspeitas
Que logo voltarão...
Os Beijos e Abraços
Aguardam-te, todos,
Na ante-sala da solidão.

sábado, 12 de março de 2011

Menino do Rio

Nininho, foi tu quem falou,
Que naquela beira de rio,
Tinha uma moça, que ia,
E que vinha, à procura de Senhor?

De certo que fora tu,
Brejeiro, maneiro;
Menino do rio,
Menino de mar,
Lá de São Salvador.

Nada deixa escapar à rede,
Quem dirá ao olho!
Vai dizer à moça,
Que Senhor aqui não vive mais.

Não exita, eis que ela é faceira!
E se bem conheço, vai voltar.
Ah, se tu conta que aqui vou tá!
Nininho, não há maneira,
Te pego aqui ou acolá!

Joga a tarrafa e vai à luta, guri!
Vai ver que na vida há que caçar,
(Pra viver),
E que há de escapar,
(Pra sobreviver).

quarta-feira, 2 de março de 2011

Dança Noturna

Desabotoa-me,
Embaraça-me,
E entrelaça teu viço no meu até vingar.

Encoste-se,
Grude-se,
Roçe na terra que esse corpo já te faz brotar.

Mova-me,
Traga-me,
Pulse como a artéria que agora se lhe faz cortar.

Encanta-me,
Acolhe-me,
No beijo salgado-doce do rio-mar.

Inunde-se,
Incorpore-se,
Na balé sublime de dois corpos ao luar.

E saiba,
Que quanto mais leve o corpo,
Mais leve o levitar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Quereres

Quis dar-me tempo; e dei.
Quis teu alento; e afaguei.
Quis conhecimento; e estudei.
Quis bondade; e alimentei. 
Quis redenção; e busquei.
Quis paixão; e instiguei.
Quis gana; e batalhei.
Quis grana; e trabalhei.
Quis amar; e perdoei.
Quis paz; e semeei.
Quis imortalidade; e realizei...

...que fora o tempo fugaz o ingrediente principal dos meu quereres.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Na Hora de Ir

Toda parte do corpo bole;
Sacode, Explode, Mexe;
É a música que vem certa;
Acerta, Desperta, Bate;
É a imagem que emociona;
Tenciona, Questiona, Cresce;
É o cheiro que atiça;
Excita, Suscita, Pede...
Pro corpo reagir;
Tato, Paladar, Trato;
Olhar, Ouvidos, Sentidos;
Em todo corpo há uma mão;
Um toque: "Toc, Toc, Toc";
E a já estou lá...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Linha Tracejada

Tive medo, não vou negar,
Era certo, mas não preciso;
Quem o ditaria?
Seriam fatos? O acaso?
Os dias? As noites?
O que seríamos nós?!
Senão a noite que mal dormi,
O dia que lamentei;
O abraço que acolhi,
O consolo que ofertei;
Tive de esperar pra ver,
Que o que viera: mostrou-se,
E o que viria: mostrar-se-ia;
Na vastidão de um caminho,
Em linha tracejada,
Que com giz tracei.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Relógio de Pulso

Meu relógio quebrou,
E estou em pedaços;
O tic-tac cessou,
Os ponteiros, bagaços;
Todos espatifados,
A denunciar-me:
Sou grande menino,
Que precisa de tempo;
Sem o controle do pino,
Sou puro lamento;

Volta logo, amigo;
Mostra-me a hora de correr,
E o minuto de partir;
Se contigo é difícil sentir,
Sem ti é mais fácil de ser;
Se te conserto,
De certo,
Volto a dono do tempo;
Se te deixo,
Me queixo,
Mas volto a dono de mim.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Recomeço

Extravasar as energias, cair no samba e afogar as mágoas da vida: era tudo que ela mais queria. Mas como faria isso se há muito tempo desconhecia o sabor da liberdade? Esteve presa, enredada, acorrentada e fora infeliz por crer que tudo o que mais queria era um amor. Não encontrara nos braços dele tudo o que desejara, o que queria, do que mais necessitava. Pusera então, após longa data, fim naquele tal entrelaço e já num passo vislumbrara o que perdera: os múltiplos amores que deixara, as vagas experiências que vivera ao seu lado e o desassossego constante que experimentara, por sustentar uma farsa por tempo demasiado longo. O que seria dela agora? Sofreria? Lamentaria? Ou gozaria? Ou sambaria? Se entregaria aos tais prazeres da vida dos quais tanto se afastara? Tudo fez-se confuso em seu âmago, onde havia, porém, uma certeza: a de que nada tornaria a ser como antes; que o medo, a angústia, o sofrimento hora qualquer passariam. Havia chegado a um ponto crítico e resolveu começar uma dieta. Cortou frituras, doces, sonhos por demais lúdicos; cortou também as ilusões.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Instante derradeiro

Houve o olho que vê,
E o que grava;
A alma que crê,
E a que vaga;
O riso que fala,
E o que cala;
Houve aqui você,
E o amor verdadeiro.
Ouve-me: "sou eu",
No instante derradeiro,
De nosso encontro...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Silogismos da vida

Todo evento começa com uma escolha.
O Nascimento é um evento.
O Nascimento começa com uma escolha. - silogismo barato; falácia da vida real.

Tudo começa, na verdade, com um impulso; esse impulso vital que tal qual uma respiração começa na inspiração, transpassa a prisão do ar e remete, finalmente, a expiração. Nascer é tomar o fôlego inicial; envelhecer é prender a respiração, mantendo o pulmões cheios (ao máximo que se pode); morrer é expirar para evaporar a essência. Nem tudo é escolhido, mas aquilo que pode ser deve ser determinante para uma vida.

Toda raridade é uma benção.
Viver bem é raridade.
Viver bem é uma benção. - silogismo barato; verdade da vida real.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Interlocução

Chuvas e trovões que caem e eu aqui abrigado.
"E esse sol que não dá trégua?!"
Por favor, não me aborreça, estou em paz.
"Podíamos pegar uma praia, o que vc acha?!"
Digo que passarão as nuvens e triste tornarei a ficar.
"Ah, que brisa gostosa. Esse sol é tudo, não é?!"
Mas quando elas se forem, uma coisa restará que me alegrará.
"Ahhhhh, quando ele chegar vai ser lindo, não vai?!"

Eis que nasce um arco-íris...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Na Caixa de Pandora

A esperança é a mãe dos tolos; é a última que morre (já diriam uns) e a primeira que mata (diriam outros); é a cruz em que Jesus Cristo foi pregado. 
Se lá pregado não estivesse, não esperaria que fosse ouvido: por milênios adentro, pelo mundo afora. Como seria o mundo sem o Jesus pregado e sem a nossa mais querida tola?! Talvez o mundo tivesse mais fé (em seu sentido literal), aquela para a qual o significado de expectativa é inexistente. Talvez os homens fugissem menos as suas reais responsabilidades e não depositassem confiança a outrem; talvez vivessem em uma concretude tão devastadora que o mundo seria ainda mais engessado e cruel do que já; talvez se embriagassem mais; talvez  orassem menos, pois não haveria o fardo da cruz; talvez eu mesmo não fosse aquele que lhe traz esse desalento, mas, de certo, haveria outro que o faria: talvez melhor, talvez pior. 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Trinta e Tantos

Tratos, tantos, tontos;
Trampos, todos, tamanhos;
Tiques, tramas, taques;
Traços, temas, tremas;
Tremores, temores, teores;
Traumas, trevas, tempo;
Tudo, tecido, milimetricamente.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Contraposição

Eu, com tudo.
Tu, contudo.
Eu, portanto.
Tu, no entanto.
Eu, poema.
Tu, Ipanema.
Eu, voraz.
Tu, audaz.
Eu, sempre...
Tu, nunca mais.