quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Na Hora de Ir

Toda parte do corpo bole;
Sacode, Explode, Mexe;
É a música que vem certa;
Acerta, Desperta, Bate;
É a imagem que emociona;
Tenciona, Questiona, Cresce;
É o cheiro que atiça;
Excita, Suscita, Pede...
Pro corpo reagir;
Tato, Paladar, Trato;
Olhar, Ouvidos, Sentidos;
Em todo corpo há uma mão;
Um toque: "Toc, Toc, Toc";
E a já estou lá...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Linha Tracejada

Tive medo, não vou negar,
Era certo, mas não preciso;
Quem o ditaria?
Seriam fatos? O acaso?
Os dias? As noites?
O que seríamos nós?!
Senão a noite que mal dormi,
O dia que lamentei;
O abraço que acolhi,
O consolo que ofertei;
Tive de esperar pra ver,
Que o que viera: mostrou-se,
E o que viria: mostrar-se-ia;
Na vastidão de um caminho,
Em linha tracejada,
Que com giz tracei.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Relógio de Pulso

Meu relógio quebrou,
E estou em pedaços;
O tic-tac cessou,
Os ponteiros, bagaços;
Todos espatifados,
A denunciar-me:
Sou grande menino,
Que precisa de tempo;
Sem o controle do pino,
Sou puro lamento;

Volta logo, amigo;
Mostra-me a hora de correr,
E o minuto de partir;
Se contigo é difícil sentir,
Sem ti é mais fácil de ser;
Se te conserto,
De certo,
Volto a dono do tempo;
Se te deixo,
Me queixo,
Mas volto a dono de mim.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Recomeço

Extravasar as energias, cair no samba e afogar as mágoas da vida: era tudo que ela mais queria. Mas como faria isso se há muito tempo desconhecia o sabor da liberdade? Esteve presa, enredada, acorrentada e fora infeliz por crer que tudo o que mais queria era um amor. Não encontrara nos braços dele tudo o que desejara, o que queria, do que mais necessitava. Pusera então, após longa data, fim naquele tal entrelaço e já num passo vislumbrara o que perdera: os múltiplos amores que deixara, as vagas experiências que vivera ao seu lado e o desassossego constante que experimentara, por sustentar uma farsa por tempo demasiado longo. O que seria dela agora? Sofreria? Lamentaria? Ou gozaria? Ou sambaria? Se entregaria aos tais prazeres da vida dos quais tanto se afastara? Tudo fez-se confuso em seu âmago, onde havia, porém, uma certeza: a de que nada tornaria a ser como antes; que o medo, a angústia, o sofrimento hora qualquer passariam. Havia chegado a um ponto crítico e resolveu começar uma dieta. Cortou frituras, doces, sonhos por demais lúdicos; cortou também as ilusões.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Instante derradeiro

Houve o olho que vê,
E o que grava;
A alma que crê,
E a que vaga;
O riso que fala,
E o que cala;
Houve aqui você,
E o amor verdadeiro.
Ouve-me: "sou eu",
No instante derradeiro,
De nosso encontro...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Silogismos da vida

Todo evento começa com uma escolha.
O Nascimento é um evento.
O Nascimento começa com uma escolha. - silogismo barato; falácia da vida real.

Tudo começa, na verdade, com um impulso; esse impulso vital que tal qual uma respiração começa na inspiração, transpassa a prisão do ar e remete, finalmente, a expiração. Nascer é tomar o fôlego inicial; envelhecer é prender a respiração, mantendo o pulmões cheios (ao máximo que se pode); morrer é expirar para evaporar a essência. Nem tudo é escolhido, mas aquilo que pode ser deve ser determinante para uma vida.

Toda raridade é uma benção.
Viver bem é raridade.
Viver bem é uma benção. - silogismo barato; verdade da vida real.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Interlocução

Chuvas e trovões que caem e eu aqui abrigado.
"E esse sol que não dá trégua?!"
Por favor, não me aborreça, estou em paz.
"Podíamos pegar uma praia, o que vc acha?!"
Digo que passarão as nuvens e triste tornarei a ficar.
"Ah, que brisa gostosa. Esse sol é tudo, não é?!"
Mas quando elas se forem, uma coisa restará que me alegrará.
"Ahhhhh, quando ele chegar vai ser lindo, não vai?!"

Eis que nasce um arco-íris...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Na Caixa de Pandora

A esperança é a mãe dos tolos; é a última que morre (já diriam uns) e a primeira que mata (diriam outros); é a cruz em que Jesus Cristo foi pregado. 
Se lá pregado não estivesse, não esperaria que fosse ouvido: por milênios adentro, pelo mundo afora. Como seria o mundo sem o Jesus pregado e sem a nossa mais querida tola?! Talvez o mundo tivesse mais fé (em seu sentido literal), aquela para a qual o significado de expectativa é inexistente. Talvez os homens fugissem menos as suas reais responsabilidades e não depositassem confiança a outrem; talvez vivessem em uma concretude tão devastadora que o mundo seria ainda mais engessado e cruel do que já; talvez se embriagassem mais; talvez  orassem menos, pois não haveria o fardo da cruz; talvez eu mesmo não fosse aquele que lhe traz esse desalento, mas, de certo, haveria outro que o faria: talvez melhor, talvez pior. 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Trinta e Tantos

Tratos, tantos, tontos;
Trampos, todos, tamanhos;
Tiques, tramas, taques;
Traços, temas, tremas;
Tremores, temores, teores;
Traumas, trevas, tempo;
Tudo, tecido, milimetricamente.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Contraposição

Eu, com tudo.
Tu, contudo.
Eu, portanto.
Tu, no entanto.
Eu, poema.
Tu, Ipanema.
Eu, voraz.
Tu, audaz.
Eu, sempre...
Tu, nunca mais.