quarta-feira, 28 de março de 2012

Regresso do Amor

Meu amor está voltando.
Não que tenha ido embora,
É que de passagem em passagem,
A presença acaba ficando do lado daqui,
Do lado de lá.
Meu amor está voltando,
Pra dividir o sono e o sonho.
Nosso amor é como o tempero bem feito,
Aquela receita ao ponto,
Aquele sumo meio doce, meio amargo,
Com gosto de quero mais.
E quero mais, quero mais...
Já vou te ver,
Já vou te amar,
Já vou...
Meu amor está chegando.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Som de Poesia

Escutei um barulho estranho.
De estômago roncando.
De batida de coração.
De passos no corredor.
Todos remetem a um corpo.
Que virou livro.
Com umas mil e não sei quantas páginas.
Escritas em versos.
Em sons.
Um corpo em formato de poema.

terça-feira, 20 de março de 2012

Educação Imprópria

O que é educação?
E para que serve?
A quem serve?
Ontem mesmo disseram-me na rua que educado não é polido.
Mas se educado também não é possível,
Então, o que pode ser educado?
Quem pode ser educado?
Que pode um povo educado?
O que foi que lhe ensinaram?
Disseram-me que fora para a libertação.
Ora, então por que vive-se preso e acorrentado à realidade?
Educar não pode significar libertar.
A liberdade fora escrita na alma.
Muito antes que coisa alguma se impregnasse no corpo.
Assim, educar é arte de escrever no corpo um linguagem.
De sons, línguas e metáforas.
Todas elas voltadas à apreciação do mundo a nossa volta.
Então, o povo educado tudo pode.
E ela a todos serve.
Embora apreciar não seja para todos.
Mas já não sabemos isso do cotidiano anormal?
Educados ou não educados,
A pergunta é: o que foi que lhe ensinaram?

sábado, 17 de março de 2012

Não Vou Chorar

Não vou chorar as misérias do homem moderno.
Nem lamentar a ocorrência dos momentos infelizes de sua história.
Quero, num passo longo adiantar-me à vida dos homens,
Pois o homem de hoje é o homem de ontem.
[Nem o de ontem foi talhado à guerra,
tampouco o de hoje à solidão, ao isolamento]
Mas não. Não vou chorar a triste história de todos os homens.
Quero guardar as lágrimas para os momentos raros do mundo.
Para a cenas extraordinárias da natureza.
Para cada vida insurgente.
Para cada nova esperança brotando do cio da terra.
Não. Não vou chorar as catástrofes globais.
As grandes tormentas, os furações, as crises econômicas.
Quero lacrimejar as noites mal dormidas dos homens de bem.
Dos trabalhadores da boa ventura.
Entregar minhas lágrimas todas ao amanhã do progresso.
Mas não. Não vou chorar os avanços da tecnologia.
O progresso das ciências.
Guardarei o choro para a noite do grande sonho.
Para a alvorada das transformações.
Guardarei um lenço macio no bolso blusa.
Para usá-lo num dia que talvez nunca chegue.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Jogo de Palavras

Sabe o girassol que todo dia o sol gira?
Será mesmo que Davi amou a vida?
Ou será que foi a Diva?
Quando é que malemolência se transforma em mal e molência?
Será na lua nova ou na nova lua?
Será que a meia metade de mim sabe da metade meia que sou?

quarta-feira, 14 de março de 2012

Pequeno Universo

Gosto de livros pequenos.
Porque não sei como lê-los grandes.
E afinal, a vida não é trem que passa de hora em hora;
E as portas dos vagões não sempre estão abertas.
O que é pequeno cabe em mim.
Dentro de uma estatura média cabe empilhar mil micropensamentos,
Milhões de microrios.
Ademais, tenho pressa.
Quero encontrar nos pequenos livros as pequenos palavras.
No cotidiano, pequenos atos, pequenos gestos.
Quero fagocitar tudo que for miniatura,
Respirando por microporos.

 

terça-feira, 13 de março de 2012

Águas Rasas

Revolve o mar as águas rasas,
Em meio a areias turvas e conchas quebradiças à sua beira.
Sejam os grãos a poeira da alma difusa que carregas,
As conchas, as desilusões que saboreastes.
Revolve tu a borda de teu ser,
O teu íntimo à mostra do social.
Revolve-a tal qual as ondas do mar:
Invariável e lentamente,
Sem aguardar o cair do sol e o passar dos dias.