Se meu pai fosse pastor,
Eu não o quereria ser.
Não porque ache ruim ser pastor,
Mas acho ruim ser igual,
Ser o mesmo.
Acho tudo tão singular,
E em tudo encontro uma tal peculiaridade,
Que ser pastor para mim seria um pesadelo.
Não para meu pai,
Que é Pastor de sonho,
Mecânico de profissão.
O Pastor, quando aparece
O Pastor, quando aparece
(Vez ou outra),
Congrega as ovelhinhas,
E até toma conta,
Pra crescerem bem e darem lã.
O Mecânico é "trabaiadô",
E não tem tempo pra cuidar de rebanho algum!
Só lhe resta o tempo da lida,
Do suor que provê o sustento.
O Mecânico alimenta o corpo,
O Mecânico alimenta o corpo,
O Pastor alimenta a alma.
E eu, que nem pastor,
Nem mecânico,
Agradeço por não ser pastor,
Por não ser mecânico,
Por não ser mecânico,
Por não ser ovelha (de sonho).
2 comentários:
É sempre bom ser o outro, às vezes até mesmo ser o outro de nós, nunca o mesmo, se é que é possível não sê-lo!
Meu querido, ótimo texto!
saudades
Fran, querida!! Saudades também!!! Como vão as cosas?
Obrigado pelo comentário!! Ao escrevê-lo pensei muito no papel das mudanças, das transformações e do caráter da "hereditariedade". Meu pai, ainda que distante de mim em boa parte da vida me influenciou e alterou significativamente o curso dela; principalmente na escolha do que não ser. Por vezes é muito difícil saber o que se quer definitivamente (justamente porque as coisas são efêmeras), então um bom caminho inicial é determinar o que não se quer. Mais uma vez, se é que isso é possível...
Beijos, minha querida!
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